No tempo do colégio, diziamos
com crueldade, das freiras,
que caminhavam aos pares,
cabixbaixas, cochichando
que um amante as deixara
prostradas frente ao altar.
A euforia da vida latejava-nos
nos pulsos. Entrelaçada nas mãos
estava a inocência. Ainda
não tinhamos a grande dor
das desilusões, que viriam depois,
nem sabíamos das contradições da vida.
Mas isso era no tempo
em que a vida não tinha
obstáculos. Em que a existência
caminhava, inconsciente e livre.
No tempo em tinhamos
uma casa confortável
nos suburbios, e viveriamos
felizes para sempre, como
nas histórias de encantar.
Não tinhamos, ainda, gozado
as experiências, ingénuas, do sexo
nem suportado o tédio
as noites pejadas de desejo
Tínhamos a paz, de quem se deitava
e calmamente, adormecia
para quem, entre o deitar e o erguer havia
apenas o sonho. Porém, a vida se interpôs
Não tínhamos , ainda, vivido
o primeiro amor, aquele que
anciosamente esperámos. Aquele que
desperdiçamos. Aquele que
Para sempre, nos podia ter salvado.
Poema de André Benjamim, publicado na Revista Cultural Praça Velha.
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