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01 dezembro 2008

No tempo do colégio

(dedicado ao Marco José Lobão Paula)



No tempo do colégio, diziamos
com crueldade, das freiras,
que caminhavam aos pares,
cabixbaixas, cochichando
que um amante as deixara
prostradas frente ao altar.

A euforia da vida latejava-nos
nos pulsos. Entrelaçada nas mãos
estava a inocência. Ainda
não tinhamos a grande dor
das desilusões, que viriam depois,
nem sabíamos das contradições da vida.

Mas isso era no tempo
em que a vida não tinha
obstáculos. Em que a existência
caminhava, inconsciente e livre.
No tempo em tinhamos
uma casa confortável
nos suburbios, e viveriamos
felizes para sempre, como
nas histórias de encantar.

Não tinhamos, ainda, gozado
as experiências, ingénuas, do sexo
nem suportado o tédio
as noites pejadas de desejo

Tínhamos a paz, de quem se deitava
e calmamente, adormecia
para quem, entre o deitar e o erguer havia
apenas o sonho. Porém, a vida se interpôs

Não tínhamos , ainda, vivido
o primeiro amor, aquele que
anciosamente esperámos. Aquele que
desperdiçamos. Aquele que
Para sempre, nos podia ter salvado.



Poema de André Benjamim, publicado na Revista Cultural Praça Velha.

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