Por vezes utilizamos frases de pensadores e humoristas, ou recorremos a provérbios para reforçar uma ideia que queremos vincar. É prática normal e aceitável, que contudo não se estende a teorias mais complexas, como as económicas, dum modo tão linear como possa parecer à primeira vista.
Ouvi ontem da boca de um dirigente socialista português uma referência a John Maynard Keynes, a propósito de uma discussão económica, e fiquei admirado já que dificilmente consigo encaixar o socialismo com o pensamento económico de Keynes. Percebi desde logo que depois de tentar descolar-se do neoliberalismo, agora caído em desastre, a escolha de um teórico anterior a esta corrente talvez tenha sido uma tentação quase irresistível para um neófito na matéria, mas de qualquer modo desadequada.
O orador, socialista, devia ter lido Keynes antes de o invocar, e teria reparado que o socialismo não era algo que ele tivesse em grande apreço como bem ilustra a frase “O socialismo é a crença mais estarrecedora de que o mais insignificante dos homens fará a mais insignificante das coisas para o bem de todos”, ou ainda uma outra "Não há evidência clara a demonstrar que a política de investimento socialmente mais vantajosa coincida com a mais lucrativa". Já agora, e no contexto da referência a Keynes, aqui fica a maior contradição “Deve-se notar que, para o estado aumentar a demanda efectiva, ele deve gastar mais do que arrecada, porque a arrecadação de impostos reduz a demanda efectiva, enquanto que os gastos aumentam a demanda efectiva”.
Concluo citando um provérbio, “quem te manda a ti sapateiro, tocar rabecão”.
Via Zé Povinho
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