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13 abril 2007

"A Bola, se faz favor!"

Tem dez anos mas parece que tem muito menos porque é magrinho e pequenino. Não se importa nada porque sabe que é mais capaz do que muitos e, ainda por cima, é giro que se farta, joga rugby e já foi eleito um dos melhores jogadores. Fala muito alto, ri com gargalhadas contagiantes e tem uma liderança natural entre os primos e os amigos. Lê o jornal todos os dias e perde tempo com cada página.De manhã vai ao quiosque e a converça é sempre a mesma: "A Bola, se faz favor!" A senhora abre um sorriso cúmplice, aponta para a pilha de jornais e ele tira oque está por cima. Nem chega a dobrá-lo para o enfiar debaixo do braço porque o primeiro impulso é ler a primeira e a última página. Fora do quiosque, procura instintivamente um muro ou uma mesa de café e fica debruçado sobre o jornal, esquecido das horas e dos que estão com ele. Após uma leitura demorada, faz os seus comentários e tece as suas críticas. Os primos mais novos olham para ele com admiração e expectativa. E é então que ele repara que não está sozinho, esquece completamente o jornal e vai pela rua com eles, a pé ou de bicicleta, a explicar coisas tão banais como razões dos cartões amarelos, o plantel do Sporting escolhido para o último jogo e a estrutura da Liga dos Canpeões. Isto, eu não percebo mas acho fascinantes, especialmente por serem ditas com tanta assurance por um pingo de gente.

Retirado de Público P2 Coisa da vida (escrito por Laurinda Alves)

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